Olá, estimadas servidoras e estimados servidores,
Vivemos momentos difíceis recentemente, apesar desta instituição já me ter proporcionado tanto aprendizado e tantas conquistas. Acho que todos sabem que as conquistas profissionais dão sentido às nossas vidas, pois ocupam muito do nosso dia a dia, ou seja, se nos dedicamos tanto ao trabalho, é natural que busquemos ser felizes no que fazemos profissionalmente.
Ao longo da minha carreira aceitei desafios imensuráveis, desde o início da docência, passando pelo início na gestão, chegando a ser diretora-geral do maior câmpus do IFSC. Todas as vezes que assumi um novo posto de trabalho, uma carga de emoção também me invadia pois sabia que novos desafios estariam por vir e, com isso, novas realizações também. Aí veio o desafio de assumir a Reitoria junto de uma equipe de amigos, parceiros, aqueles com quem divido ideais e princípios humanos muito fortes. Ser diretora executiva do IFSC é uma grande realização, pois me deu entendimento da amplitude do diálogo com toda a nossa instituição. Ao mesmo tempo em que assessoro o reitor, conduzo a governança do IFSC dialogando com os câmpus, as pró-reitorias, os colegiados, as diretorias sistêmicas, atendo estudantes, órgãos externos e toda a sociedade.
Ver nossas políticas públicas de educação dando resultados tão preponderantes me alegra profundamente. Na última segunda-feira (10 de março), no entanto, sofri. Estava no posto de substituta do reitor na reunião extraordinária do Consup, presidindo os pontos 3 e 4, pelo possível conflito de interesses ali colocados, e digo com todas as letras que sofremos uma derrota.
A pauta em questão foi a discussão da minuta relativa ao decreto 11.443/2023 que menciona a necessidade de reserva de vagas para cargos de gestão a pessoas pretas e pardas, indígenas e quilombolas. O tema não é apenas relevante, o tema é necessário visto que o decreto é de 2023 e temos até o ano de 2025 para implementá-lo.
A gestão moveu esforços para que uma comissão fosse instituída e que fosse representativa. Fizemos questão de não participar da escrita desta minuta entendendo que o coletivo negro do IFSC deveria conduzir o trabalho, tendo o protagonismo necessário.
Olhando para esta linha do tempo, entendemos que a gestão não se omitiu, ao contrário, incentivou o trabalho deste comitê desde 2023, quando tivemos ciência deste decreto.
A sequência de fatos se dá pela instauração de uma comissão, e dos trabalhos que foram intensos. Os diálogos começaram no Sepei de 2023 em Joinville, entre os Neabis e esta gestão, entendendo que era necessário se debruçar sobre o tema e que muito trabalho estaria pela frente. A comissão realizou mais de 10 reuniões que envolveram servidores de vários câmpus e terminou seu trabalho em novembro de 2024, enviando o documento para apreciação do Consup em dezembro do mesmo ano. Tão logo foi possível, a minuta foi pautada no colegiado mais importante do IFSC.
Na reunião do Consup de 3 de fevereiro, vimos um fato totalmente inesperado - 11 conselheiros votaram pela retirada do ponto de pauta, alegando falta de articulação com as bases. Como assim, se as bases inclusive fizeram parte da escrita do documento? Além disso, quais bases não foram ouvidas? Quais as manifestações que chegaram a estes conselheiros que votaram por tirar o ponto de pauta? Nada foi apresentado.
Levianamente como aconteceu, compreendo que o [não] diálogo é uma resposta séria e profunda ao mesmo tempo. Se a pauta é importante, por que aqueles conselheiros a retiraram no dia 3 de fevereiro, ao invés de iniciar o debate e a reflexão que são sadios a todas as políticas públicas? Mas ao mesmo tempo os mesmos conselheiros disseram, desta vez no dia 10 de março, que a pauta era importante e que deveria haver mais tempo de discussão. Esta incoerência por parte dos conselheiros está gerando dúvidas para toda a comunidade acadêmica e por isso preciso esclarecer, pois apesar de hoje estar diretora executiva, sou uma mulher, servidora, defensora da inclusão racial e posso assegurar que a gestão nunca impossibilitou ou fez amarras para que a pauta não tivesse o seu curso natural de apreciação junto ao Consup. Ao contrário, sabendo que várias discussões cercariam o tema, chamamos os membros da comissão e demais envolvidos como convidados presenciais das duas reuniões do Consup.
O tema é caro para o IFSC e para uma sociedade que ainda é pautada em heranças históricas escravocratas e racistas, mas apesar da tristeza que passo agora, sinto que era necessário expressar que, apesar do longo caminho, esta gestão não arrefecerá. Acreditamos profundamente no potencial das servidoras negras e servidores negros para ocuparem espaços de poder. Ao contrário, isso demonstra que temos muito a fazer ainda, que a jornada de uma governança dialogada, humanitária e acolhedora está ainda engatinhando em nossa instituição.
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